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Newsletter nº6 - Junho 2022

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Editorial
Editorial

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Olá a todos e todas

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Mais uma Newsletter a sair e esta com um tema interessante e que nos diz muito:

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“As vivências em tempos de pandemia e de guerra – quais as suas consequências?”

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Já há 3 anos que lidamos com a pandemia e em todas as mudanças que tivemos de introduzir nas nossas rotinas diárias. As incertezas, as dúvidas, os alertas constantes, moldaram os comportamentos de todos, despertaram em nós os medos, as ansiedades e os sobressaltos de podermos ser infetados ou de infetarmos outros.

 

Mas não foi só o medo de ser infetado, mas a tristeza de não estarmos uns com os outros, de não poder abraçar, não poder tocar, não poder estar próximo de quem mais amamos e este foi, quanto a mim, o pior medo. Após estes anos, constata-se que somos muito resilientes, que conseguimos arranjar forças para superar os momentos piores da nossa vida, mas…continuamos alerta e nunca vamos esquecer o que se passou e que ainda estamos a passar.

 

A pandemia do Covid 19, veio mostrar quanto somos vulneráveis e frágeis, face a um “bichinho” minúsculo que nos destrói por dentro e nos muda a vida toda. Felizmente que a medicina está muito desenvolvida e tem encontrado formas de combater este mal, sendo as vacinas um exemplo disso e que tantas vidas salvaram, um bem-haja a todos os profissionais de saúde.

 

Agora temos uma outra inquietação, a guerra. Uma guerra longínqua, mas que vamos sentindo indiretamente na nossa vida diária, quer através das imagens cruéis que assistimos nas televisões, quer nos relatos das pessoas que a viveram e que já estão entre nós. É uma guerra sem sentido, num país livre, independente e soberano, que só quer a paz e que de repente se viu invadido por outro estado. É inconcebível que no século XXI isto possa acontecer e que se ponha em causa a paz mundial.

 

Mas esta guerra também se faz sentir na nossa economia, no aumento dos preços, na escassez de alguns produtos, na incerteza do futuro, na dúvida do desenrolar dos acontecimentos.

 

O ser humano tem vindo a resistir a muitas adversidades ao longo dos séculos e tem conseguido ultrapassar guerras, epidemias, fome, catástrofes ambientais, situações limite que o põe à prova e que fazem despertar movimentos de solidariedade, de interajuda, de amizade que o tem ajudado a resistir e a “dar a volta” às contrariedades e tenho a certeza que vai acontecer também agora com a pandemia do Covid 19 e com a guerra na Ucrânia, tenhamos fé e confiança que estes maus momentos vão passar.

 

SEJAMOS FORTES E UNIDOS

 

Um abraço

 

Maria Eugénia Duarte

(Licenciada em Serviço Social)

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Relações intergeracionais entre avós e netos
Relações intergeracionais entre avós e netos – o que se perdeu e o que temos de reconquistar
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Vivemos tempos complexos, reagindo a mais de dois anos de pandemia que vieram alterar a nossa forma de viver em sociedade, ao eclodir de uma guerra com impactos à escala mundial e tantos outros desafios que se vão sucedendo no vórtice dos dias. Ser e estar nas relações com os outros tem vindo a exigir-nos renovadas formas de interação, que nos possibilitem continuar a realizar uma das dimensões mais importantes da nossa vida que é a sociabilidade, ou seja, as relações com os outros. Atendendo a este pressuposto, o que se perdeu, por exemplo, nas relações intergeracionais entre avós e netos, nos últimos tempos, nesta dimensão? Como vivemos a ausência do abraço, do toque, dos afetos? Como vamos “recuperar”?

E do que se perdeu, será possível retomar com a mesma intensidade estas relações? Sendo certo que a pandemia ainda não acabou e os desafios da proteção em todas as idades e condições de saúde (especialmente das pessoas que se encontram em situação de maior vulnerabilidade) continuam a ser um imperativo, e sob pena de nos habituarmos a normalizar os distanciamentos sociais (confundindo-os tantas vezes com outros distanciamentos) é importante relembrar alguns pressupostos sobre a importância das relações intergeracionais para todos os envolvidos, independentemente da idade:

 

1 - É importante que nas diferentes etapas do ciclo de vida se possam ir desenvolvendo novas competências e aprendizagens que se constituam como centros de interesse e ancoragem especialmente significativos em fases mais desafiantes.

 

2 - Olhar a vida enquanto ciclo significa defender que as aprendizagens devem continuar a ser estimuladas, independentemente da idade ou condição em que a pessoa se encontra (estado de saúde, condição económica, local onde vive, etc.).

 

3 - As relações intergeracionais são momentos de valorização do saber adquirido, de aquisição de novos saberes, de aproveitar o tempo de forma significativa e de ser um elemento vivo e dinâmico na família e na comunidade.

 

4 - As trocas intergeracionais são espaços e tempos de partilha de experiências e recursos e de aprendizagem entre gerações, com benefícios para todas as partes envolvidas, entre as quais se destacam: a alteração de atitudes em relação a outras gerações, frequentemente influenciadas por preconceitos, estereótipos em relação à idade (idadismo); transmissão de conhecimentos, experiências e tradições culturais; promoção da colaboração, da solidariedade e da partilha de recursos entre gerações, entre outros.

 

Neste sentido, é importante alargarmos a nossa visão sobre as relações intergeracionais apenas como momentos ou situações pontuais em que se promovem atividades de forma organizada com esse propósito (por ex. visitas de crianças a lares, pessoas idosas que vão contar histórias a escolas ou creches, festas temáticas, etc.). Naturalmente que este tipo de atividades terá também os seus benefícios, mas defendemos uma visão mais ampla, e consistente de permanente troca entre pessoas de todas as idades, onde todos podem ensinar e aprender, onde todos podem existir como pessoas, independentemente da idade ou da condição em que se encontram.

 

Em tempos que a todos nos desafiam ao/no retomar das sociabilidades, cremos que apenas através deste processo de interação sistemático entre pessoas de diferentes gerações, que realizam atividades que respondem às suas necessidades e interesses, numa dinâmica de participação, cooperação, interação, intercâmbio e de diálogo intergeracional desenvolvido numa relação igualitária, de tolerância e respeito mútuo, será possível almejarmos uma sociedade (verdadeiramente) para todas as idades.

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Carla Ribeirinho

Licenciada, mestre e doutora em Serviço Social. Docente na Licenciatura em Serviço Social e no mestrado em Gerontologia Social no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Formadora, supervisora e consultora na área do Serviço Social e da Gerontologia

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O conforto da pessoa idosa num mundo em constante mudança
O conforto da pessoa idosa num mundo em constante mudança

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Em tempo de cuidado contemporâneo, as preocupações com as questões dos idosos, em torno da responsabilidade de cuidados personalizados, têm estado no centro das preocupações da sociedade. Com a evidência da pandemia provocada pelo vírus SARS-CoV-2, designada e declarada oficialmente em março de 2020 pela OMS por COVID-19, seguida pela guerra na Ucrânia, uma crise fortíssima e imprevisível aconteceu ao nível da saúde, concretamente na relação com os aspetos que se ligam à pessoa idosa. Num mundo cada vez mais exigente a necessidade procurar, cada vez mais, cuidados adequados à satisfação das necessidades de saúde desta população é uma constante.

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A atual situação criada pelo COVID-19 constitui um ambiente marcado por inseguranças e medo e assim destacam-se os desafios impostos principalmente à população idosa, a seus familiares e profissionais da saúde. Num exercício à liberdade humana, sabemos que as práticas deverão atender os mais frágeis, o que nos conduz à reflexão para os efeitos e consequências que esta crise tem vindo a provocar neste grupo etário. Agravado pelas exigências pessoais e do trabalho que a pandemia veio impor por tempo indeterminado, os contextos de cuidados têm sofrido alterações, potenciando múltiplos desconfortos, nomeadamente à pessoa idosa, aquando da imposição de isolamento social. Será fundamental atender e compreender a complexidade deste grupo etário, no sentido de uma evolução das práticas e adequação de respostas, com particular enfoque na dimensão confortadora. Qualquer ser humano necessita de se relacionar com os outros, de comunicar, de receber e dar apoio emocional e afetivo. A afetividade surge, assim, como uma necessidade humana básica de afeto e de pertença. Entende-se como uma necessidade fundamental e natural na vida das pessoas, independentemente da idade e condição física. Para as pessoas idosas os afetos surgem como uma estratégia de promoção do seu envelhecimento saudável, não devendo ficar privada de estabelecer relações interpessoais, visto serem imprescindíveis ao seu bem-estar emocional. Para a pessoa idosa, a companhia, o apoio, o afeto da família e dos amigos é um fator gerador de conforto.

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Dada a complexidade e a especificidade dos problemas de saúde/doença que as pessoas idosas vivenciam em diferentes contextos, consideramos que se torna fundamental avaliar a necessidades /desejos e expetativas desta população, dado que o contexto tem influência nos mesmos. A atenção e cuidado deverá focar-se em torno do que é central, pelo que, entender a palavra dos mais velhos emerge como determinante. À luz destas perspetivas e articuladas estas relações, defendemos como imperativo garantir um cuidado justo e devido, com mais qualidade de vida, com mais e melhor conforto. Na construção do processo confortador há que ter sempre em conta o desenvolvimento do projeto de vida e de saúde dos idosos na relação com as transições vividas e as transformações sociais, económicas e de saúde/doença.

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O Conforto é reconhecido como um bem desejável à Vida, um fim global de elevado interesse para o cuidado humano em saúde. Por ser considerada uma dimensão de cuidado individual, subjetiva e circunstancial constitui um desafio constante para quem cuida, exigindo uma inevitável coordenação e integração dos vários níveis de cuidados e das múltiplas soluções, adaptadas às circunstâncias vividas. Uma vez que para a pessoa idosa a saúde é perspetivada como um recurso num funcionamento ótimo definido individualmente, o conforto também se revela de interesse uma vez que integra conceitos como: saúde, crescimento, abertura, capacitação e liberdade.

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Sabemos que a apreciação do estado de saúde do idoso é complexa, na medida em que depende das alterações funcionais, do estilo de vida e expetativas individuais. Nesta ordem de ideias, promover conforto surge como um dever para os profissionais de saúde.

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Ao ser a prática promotora de conforto exigente, defendemos a sensibilização e consciencialização para a importância da sua construção, a fim de cuidar do Idoso, de forma completa e integral, e impulsionada incessantemente pela vontade de Ser mais, de ter mais conforto e uma melhor qualidade de vida. Este processo deverá ser centrado na circunstância de vida da pessoa idosa dirigido intencionalmente às necessidades de conforto. Falamos de um Compromisso de Cuidado co-construído, pela interação e alicerçado em qualidades humanas e profissionais, em prol da “melhor saúde do idoso”.

 

Da análise global, torna-se necessário a tomada de consciência das alterações de vida a que a pessoa idosa fica sujeita pelas consequências da COVID-19 e da guerra. Numa procura intencional de cada idoso/situação o seu reconhecimento constitui o princípio/fundamento do respeito pela sua integridade. Esta é uma atitude determinante mediada pelas interações que criam proximidade e nutrem a relação.  Assim, no contexto social envolvente, há que reconhecer estes efeitos, objetivando a personalização e humanização do cuidado prestado e as suas potencialidades, permanentemente ajustadas a uma sociedade em constante mudança.

 

Em suma, numa época de desafios constantes, não só o cuidado à pessoa idosa constitui uma preocupação central no cuidado em saúde, como o cuidado confortador está para além da capacidade de resposta exclusiva de uma profissão. Embora se considerem os profissionais de Enfermagem os elementos facilitadores da ação confortadora, a procura da satisfação de quem é confiado ao cuidado exige uma abordagem multidisciplinar e multiprofissional. Só uma perspetiva multilateral centrada na gestão da qualidade poderá responder com eficácia às necessidades de saúde e de conforto da Pessoa Idosa.

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Ana Gonçalves Martins

Doutoranda em Enfermagem, Universidade Católica Portuguesa, Instituto de Ciências da Saúde, Centro de Investigação Interdisciplinar em Saúde

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Patrícia Pontífice Sousa

Professora Auxiliar, Universidade Católica Portuguesa, Instituto de Ciências da Saúde, Centro de Investigação Interdisciplinar em Saúde

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Envelhecimento Ativo e o Conforto
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Envelhecimento Ativo e o Conforto
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A Nas últimas épocas, constatou-se um aumento da esperança média de vida, consequência dos progressos da medicina, mas também da melhoria das condições de vida (qualidade da habitação, condições sanitárias e de higiene, informação sobre estilos de vida saudáveis, alimentação e acesso a cuidados de saúde). Surgiram, também, formas de prevenir as doenças ou complicações, onde se incluem as vacinas terapêuticas preventivas, meios complementares de diagnóstico e terapias de reabilitação. Tal, permite que a pessoa sobreviva durante mais tempo e atinja idades mais avançadas, potenciando o desenvolvimento de doenças crónicas como as doenças osteoarticulares, cardiovasculares, neurológicas, respiratórias, renais e neoplasias (Boyd, Smith, Masoudi, Blaum, Dodson, Green et al, 2019). Tal permite que a pessoa viva mais tempo, mas nem sempre este tem correspondido a um aumento de qualidade de vida.

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Enquanto fenómeno social, único e global o envelhecimento representa um desafio multifacetado, na procura do bem-estar das pessoas em prol de ambientes potenciadores do conforto. Tal exige a definição de objetivos e estratégias que possam ter em atenção as diferentes necessidades e interesses da pessoa idosa.

A este propósito, a Organização Mundial da Saúde, lançou o conceito de envelhecimento ativo como pilar para a sustentabilidade da problemática que o aumento dos idosos trouxe à sociedade. E define este conceito como um “processo de otimização de oportunidades para a saúde, participação e segurança, para melhorar a qualidade de vida das pessoas que envelhecem” (OMS, 2002 : 12).

 

Mas a que se refere este conceito?

 

Manter-se “ativo” não se refere apenas à capacidade e energia física mas refere-se à participação dos idosos nas questões sociais, económicas, espirituais, culturais e civis (Vallespir & Morey, 2007). Trata-se de um conjunto de atitudes e ações que deveremos ter no sentido de prevenir o adiar as dificuldades e limitações associadas ao envelhecimento.

 

O envelhecimento ativo é um processo de desenvolvimento saudável. Engloba conceitos chave tais como autonomia, independência, expectativa de vida saudável e qualidade de vida. Estes aspetos remetem para a importância dos direitos humanos da pessoa idosa e para os princípios da dignidade, participação, independência, assistência e auto-realização.

 

Com o envelhecimento ativo, pretende-se aumentar a expectativa de uma vida saudável e a qualidade de vida para todas as pessoas independentemente da idade e de algumas incapacidades resultantes do envelhecimento. Para tal é fundamental uma boa saúde enquanto bem estar físico, mental e social de modo a conseguir manter a sua independência funcional. Não podemos esquecer que todas as pessoas são diferentes entre si pelo que as suas necessidades também são diferentes. É importante atendermos à sua individualidade e necessidades próprias.

 

A promoção da saúde deve ter por base atividades ajustadas à pessoa, de acordo com os seus gostos e capacidades, através da prática regular de atividades físicas e mentais estimulantes e promotoras da socialização bem como uma alimentação saudável.

 

A apreciação do estado de saúde do idoso é complexa na medida em que depende do estilo de vida e da perceção individual que cada um tem do seu projeto de vida e saúde. Nas expectativas desenvolvidas e construídas pelas pessoas idosas percebe-se que estas vem influenciar e contribuir para o estado de conforto, condição de bem-estar, saúde e qualidade de vida. Concretamente as pessoas que desenvolvem expectativas positivas tem maior capacidade para lidar com os desafios que possam vir a enfrentar. Por outro lado, aquelas que desenvolvem expectativas negativas tem tendência a ter um declínio físico e cognitivo mais acentuado.

 

É imprescindível que a comunidade e os sistemas de saúde concentrem os esforços na promoção da saúde e na prevenção de doenças. Um dos desafios é o esforço conjunto da pessoa, dos familiares/cuidadores informais e dos profissionais de saúde (Vallespir & Morey, 2007). Cada pessoa, cada família deve preparar o envelhecimento e adotar estilos de vida saudáveis promotores do envelhecimento saudável (OMS, 2002). Há que ter em conta os objetivos de vida, os problemas reais de saúde, as perceções que se tem da sua própria saúde/doença a fim de ter uma melhor adesão aos estilos de vida saudáveis e aos tratamentos.

 

Enquadrado na área da saúde como um fenómeno desejável ao longo da vida, o conforto é considerado como uma necessidade, uma perceção pessoal cujo significado é multidimensional, variável de individuo para individuo, em função das suas expectativas, experiências, fatores sociais e culturais (Sousa, 2020). O envelhecimento ativo é promotor do estado confortador, atingindo um estado de saúde positivo e um equilíbrio facilitador do conforto físico, psicológico, espiritual, social, cultural e ambiental.   

 

Quando a saúde é ameaçada, o desconforto é evidente a ajuda dos familiares / cuidadores informais, cuidadores formais e profissionais de saúde é determinante. As suas ações deverão ser conscientes e intencionadas ajudando a pessoa idosa a manter, melhorar, recuperar a saúde, promover o auto-cuidado e procurar o conforto e qualidade de vida.

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CUIDAR DO IDOSO CONFORTANDO É UM DESIGNIO COLETIVO.

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Referências

  • Boyd, C., Smith, C. D., Masoudi, F. A., Blaum, C. S., Dodson, J. A., Green, A. R., Kelley, A., Matlock, D., Ouellet, J., Rich, M. W., Schoenborn, N. L., & Tinetti, M. E. (2019). Decision Making for Older Adults With Multiple Chronic Conditions: Executive Summary for the American Geriatrics Society Guiding Principles on the Care of Older Adults With Multimorbidity. Journal of the American Geriatrics Society, 67(4), 665–673p.

  • Organização Mundial de Saúde (2002). Active ageing: A policy framework. The Aging Male. 2002; 5: 1–37p.  

  • Sousa, P. (2020). O Conforto da Pessoa Idosa. 2ª Ed. Universidade Católica Editora, editor. Lisboa; 139: 4.

  • Vallespir, J. & Morey, M. (2007), “A Participação dos Idosos na Sociedade : Integração VS. Segregação”, A.R. Osório e F. C. Pinto (coords), Pessoas Idosas : Contexto Social e Intervenção Educativa, Lisboa, Instituto Piaget, 225-252.

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Rita Marques

Professora de Enfermagem na Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha Portuguesa

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Patrícia Pontífice Sousa

Professora de Enfermagem na Universidade Católica Portuguesa

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Cuidadores informais/familiares
Cuidadores informais/familiares: a (in)visibilidade no cuidado à pessoa idosa
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A nível mundial a população idosa e muito idosa está a aumentar e Portugal não é indiferente a este fenómeno, com dados dos Censos 2021 a revelar que a esperança média de vida é 81,06 anos (Instituto Nacional de Estatística, 2021), evidenciando que vidas mais longas traduzem uma das conquistas coletivas mais notáveis (World Health Organization, 2020).

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​No entanto, o ganho em longevidade nem sempre é acompanhado por ganho da capacidade funcional. A capacidade funcional diz respeito à autonomia da pessoa em realizar as Atividades de Vida Diária, a qual é avaliada pela independência com que as realiza.

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Em pessoas com idades mais avançadas aumentam as comorbilidades que podem elevar o grau de dependência (Leal et al., 2020), que exigindo resposta às crescentes necessidades a ele associadas faz emergir maioritariamente no seio da família, um familiar que toma a si a responsabilidade pela satisfação dessas necessidades na forma de prestador de cuidados (Aman et al., 2020).  O assumir deste papel pode ser de forma súbita ou progressiva e muitos cuidam por amor, reciprocidade e gratidão, enquanto outros fazem por obrigação (Rezende et al., 2021) pessoal, familiar e/ou moral (Mónico et al., 2017). Independentemente do motivo por que cuidam, o familiar prestador de cuidados é um “amortecedor” crucial para a carga que representa para a sociedade, a pessoa que necessita de cuidados devido à sua dependência nas Atividades de Vida Diária (Yu, et al., 2020).

 

Em Portugal foi publicado o estatuto do cuidador informal (Lei nº 100 de 6 setembro, 2019) que confere suporte legal aos cuidadores. O cuidador informal, é uma pessoa que presta cuidados, frequentemente não remunerados, a alguém com uma doença ou com uma necessidade prolongada de saúde, e que está fora de um quadro formal da prestação de cuidados de saúde.

 

A literatura descreve a prestação de cuidados, caregiving, a uma pessoa com dependência, como um processo dinâmico de prestação de cuidados que o cuidador experiência ao longo do tempo do seu papel de cuidador familiar num continuum de cuidados (Family Caregiver Alliance, 2006).

 

Nesta trajetória do caregiving, ser cuidador de uma pessoa com dependência pode ser stressante e cansativo (Felipe et al., 2020), surgindo o cuidado como agente stressor com implicações físicas, psicológicas e financeiras (Alzheimer’s Association, 2019) resultando assim em consequências para a saúde do cuidador (Zheng et al., 2017).

 

O relatório europeu sobre o impacto do Covid-19 nos cuidadores informais da Europa (Eurocarers/IRCCS- INRCA, 2021) revela que, em Portugal:

 

- 55,4% dos cuidadores viu o seu estado de saúde afetado negativamente pelo desempenho do seu papel, devido ao Covid-19;

 

- apenas 17% tinham contato com o apoio de organizações de cuidadores ou eram seus membros.

Este cenário reforça a importância de apoio aos cuidadores que abdicam de cuidar de si em prole do cuidado ao outro, o que os faz deixar as suas vidas suspensas. Assim tanto os profissionais da área da saúde como os decisores políticos devem garantir o cuidado integral ao idoso e sua família para evitar que os cuidadores comprometam a sua vida e a sua saúde por cuidar do outro com dependência (Rezende et al., 2021).

 

Laura Viegas

Professora Doutora da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa

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Bibliografia:

 

Alzheimer’s Association (2019). Alzheimer’s Disease Facts and Figures. Alzheimer’s Dement. 15(3), 321-87.

 

Aman, Z., Liew, S.M., Ramdzan, S. N., Philp, I. & Khoo, E. M. (2020). The impact of caregiving on caregivers of older persons and its associated factors: a cross-sectional study. Singapore Med J., 61(5), 238-245 DOI: 10.11622/smedj.2019100

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EUROCARERS/IRCCS- INRCA (2021). Impact of the COVID-19 outbreak on informal carrers across Europe- Final report. Brussels/Ancona.

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Family Caregiver Alliance (Eds.). (2006). Caregiver assessment: Principles, guidelines and strategies for change: Report from a National Concensus Development Conference (Vol I). San Francisco: National Center on Caregiving at Family Caregiver Alliance.

 

Felipe, S.G.B., Oliveira, C.E.S., Silva, C.R.D.T., Mendes, P.N., Carvalho K.M., Júnior, F.L. & Figueiredo, M.L. (2000). Anxiety and depression in informal caregivers of dependent elderly people: an analytical study. Rev Bras Enferm, 73. Edição suplementar 1. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2019-0851

 

Instituto Nacional de Estatística (Portugal) (2021). Dados provisórios segundo por grupos etários [Lisboa]. Instituto Nacional De Estatística. Disponível em https://www.ine.pt/scripts/db_censos_2021.html

 

Leal, R., Versa, S., Silva, M., Gonçalves, C., Silva, C., Sá, A., Carvalho, V. & Silva, M. (2020) Efeitos do envelhecer: grau de dependência de idosos para as atividades da vida diária. Braz. J. of Develop., 6(7), 53931-53940 DOI:10.34117/bjdv6n7-876

 

Lei n.º 100/2019 de 6 de setembro (2019). Aprova o Estatuto do Cuidador Informal. Diário da República, 1.ª série, nº 171, 3-16. Assembleia da República. Lisboa, Portugal. Retirado de https://data.dre.pt/eli/lei/100/2019/09/06/p/dre

 

Mónico, L.S.M., Custódio, J.R. A., Frazão, A.A., Parreira, P., Correia S. & Fonseca, C. (2017). A família no cuidado aos seus idosos: Gestão da sobrecarga e estratégias para enfrentar dificuldades. RIASE online, agosto, 3(2), 982 - 998.

World Health Organization (2020). Decade of Healthy Ageing: Plan of Action 2020-2030. Publication, 1-26.

https://www.who.int/publications/m/item/decade-of-healthy-ageing-plan-of-action

 

Rezende, C., Nascimento, M., Assis Santos, M., Oliveira, I., Filardi, A., Nascimento, Y. & Oliveira, D. (2021). Family caregivers’ experience in the process of caring for older adults: a qualitative synthesis .  Research, Society and Development, 10 (12), doi: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i12.20037

 

Yu, D.S.F., Cheng, S., Chow, E.O., Kwok, T. & Mccormack, B. (2020). Effects of strength-based intervention on health outcomes of family caregivers of persons with dementia: A study protocol. J Adv Nurs. 76(10), 2737-2746.

DOI: 10.1111/jan.14470

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Zheng, L., Chen, Q. & Sun, Y. (2017). Mindfulness training for psychological stress in family caregivers of persons with dementia: a systematic review and meta analysis of randomized controlled trials. Clinical Interventions in Aging, 12, 1521-1529.

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